terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Matéria (1002 - 1003)

Elementos da comunicação

Segundo Roman Jakobson, a transmissão de uma MENSAGEM pressupõe um EMISSOR e um RECEPTOR. A mensagem requer um REFERENTE (ou contexto) a que se refira  e que seja apreensível pelo receptor; ela é expressa num certo CÓDIGO e para sua transmissão é necessário um CANAL entre o emissor e o receptor.


EMISSOR: é quem transmite uma mensagem durante a comunicação ( é a pessoa que fala no discurso – a 1ª pessoa – equivalente a EU ou NÓS).

RECEPTOR:  é para quem se transmite uma mensagem durante a comunicação (é a pessoa para quem se fala no discurso – a 2ª pessoa – equivalente a TU e VÓS).

MENSAGEM: é cada conteúdo que os interlocutores compartilham.

REFERENTE: é o conteúdo, o assunto da mensagem.

 CÓDIGO: é a linguagem ou conjunto de signos usados na elaboração e/ou na transmissão da mensagem na comunicação.

CANAL: é o meio físico por onde circula a mensagem entre o emissor e o receptor.

OBS: Roman Osipovich Jakobson (11 de outubro de 1896 - 18 de julho de 1982) foi um pensador russo que se tornou num dos maiores lingüistas do século XX e pioneiro da análise estrutural da linguagempoesia e arteFoi chamado de "o poeta da lingüística" por Haroldo de Campos, sendo o criador das famosas funções de linguagem.

REFERÊNCIAS: Abaurre, Maria Luíza M. Português: Contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna, 2008.

Imagem:



Texto da aula de 07 de fevereiro de 2012

Comunicação e socialização

Lembre-se o leitor como se fez gente: sua casa, seu bairro, sua escola, sua patota. A comunicação foi o canal pelo qual os padrões de vida de sua cultura foram-lhe transmitidos, pelo qual aprendeu a ser “membro” de sua sociedade – de sua família, de seu grupo de amigos, de sua vizinhança, de sua nação. Foi assim que adotou a sua “cultura”, isto é, os modos de pensamento e de ação, suas crenças e valores, seus hábitos e tabus. Isso não ocorreu por “instrução”, pelo menos antes de ir para a escola: ninguém lhe ensinou propositadamente como está organizada a sociedade e o que pensa e sente a sua cultura. Isso aconteceu indiretamente, pela experiência cumulada de numerosos pequenos eventos, insignificantes em si mesmos, através dos quais travou relações com diversas pessoas e aprendeu naturalmente a orientar seu comportamento para o que “convinha”. Tudo isso foi possível graças à comunicação. Não foram os professores na escola que lhe ensinaram sua cultura: foi a comunicação diária com pais, irmãos, amigos, na casa, na rua nas lojas, no ônibus, no jogo, no botequim, na igreja, que lhe transmitiu, menino, as qualidades essenciais da sociedade e a natureza do ser social.
Contrariamente, então, ao que alguns pensam, a comunicação é muito mais que os meios de comunicação social. Esses meios são tão poderosos e importantes na nossa vida atual, que às vezes esquecemos que representam apenas uma mínima parte de nossa comunicação total.
Alguém fez, uma vez, uma lista dos atos de comunicação que um homem qualquer realiza desde que se levanta pela manhã até a hora de deitar-se, no fim do dia. A quantidade de atos de comunicação é simplesmente inacreditável, desde o “bom dia” à sua mulher, acompanhado ou não por um beijo, passando pela leitura do jornal, a decodificação de número e cores do ônibus que o leva ao trabalho, o pagamento ao cobrador, a conversa com o companheiro de banco, os cumprimentos aos colegas no escritório, o trabalho com documentos, recibos, relatórios, as reuniões e entrevistas, a visita ao banco e as conversas com seu chefe, os inúmeros telefonemas, o papo durante o almoço, a escolha do prato do menu, a conversa com os filhos no jantar, o programinha de televisão, o diálogo amoroso com sua mulher antes de dormir, e o ato final de comunicação num dia cheio dela: “boa noite”.
A comunicação confunde-se, assim, com a própria vida. Temos tanta consciência de que comunicamos como de que respiramos ou andamos. Somente percebemos a sua essencial importância quando, por um acidente ou doença, perdemos a capacidade de nos comunicar. Pessoas que foram impedidas de se comunicar durante longos períodos enlouqueceram ou ficaram perto da loucura.
A comunicação é uma necessidade básica da pessoa humana, do homem social.

DÍAZ BORDENAVE, Juan E. O que é comunicação. São Pualo, Nova Cultura/brasiliense, 1986. p. 17-9.


EXERCÍCIOS:

1) Releia atentamente o primeiro parágrafo e responda: qual a relação entre comunicação e cultura?

Resposta: A cultura foi adquirida por meio da comunicação, numa infindável sequencia de pequenos atos comunicativos cotidianos. 

2) O segundo parágrafo nos fala em "meios de comunicação social". O que você entende sobre eles?

Resposta: Essa expressão se relaciona com os meios de comunicação de massa, aos quais normalmente se remete quando se pensa em comunicação.  (TV, rádio, internet etc)

3) O que pensa o autor sobre os meios de comunicação social?

Resposta: O autor deixa claro que os meios de comunicação de massa, apesar de poderosos, constituem apenas uma parte mínima da nossa comunicação.

4) O terceiro parágrafo é construído por enumeração: uma longa série de atos de comunicação cotidiana nos é apresentada pelo autor. Como podemos relacionar esses atos com os meios de comunicação social do parágrafo anterior?

Responda: Essa enumeração coloca em evidência aquilo que o autor havia declarado no parágrafo anterior: note-se que, nessa lista bastante extensa, a maioria absoluta dos atos de comunicação escapa do circuito dos meios de comunicação de massa, realizando-se nos níveis mais pessoais do cotidiano. 

5) O quarto parágrafo nos coloca uma conclusão sobre o assunto levantado e discutido pelo texto. Qual a frase ou passagem que sintetiza essa conclusão?

Responda: "A comunicação confunde-se, assim, com a própria vida."

6) Relendo cuidadosamente as questões anteriores, é possível detectar o percurso seguido para atingir sua conclusão no quarto parágrafo. Comente esse percurso.

Resposta: O autor principia seu texto relacionando cultura e comunicação; alude aos meios de comunicação social;  mostra que a comunicação vai muito além desses meios, sendo sendo parte de cada pequeno ato cotidiano, e se encaminha assim para a conclusão de que a comunicação se confunde com a própria vida, pois é uma necessidade básica do ser humano.

Bons estudos!
Profa. Luana Nascimento

Procura da Poesia (Carlos Drummond de Andrade)

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.